Resenha: As Virgens Suicidas, de Jeffrey Eugenides
“As Virgens Suicidas” (The Virgin Suicides) é um romance escrito por Jeffrey Eugenides em 1993 e adaptado para o cinema por Sofia Coppola em 1999.
O enredo gira em torno do casal Lisbon e suas cinco filhas adolescentes na década de 70. As meninas são muito bonitas e, graças ao conservadorismo dos pais, envoltas por uma espécie de mistério constante que instiga a curiosidade dos meninos da vizinhança. Após o suicídio da irmã mais nova, os garotos passam a juntar peças e provas que justifiquem a tristeza das meninas Lisbon enquanto as garotas buscam meios de burlar as normas rígidas da mãe.
Na maioria do tempo, é difícil perceber que o livro se trata de um drama. Isso porque apesar de contar sobre acontecimentos muito tristes, o ponto de vista dado ao leitor é a narrativa fascinada dos meninos da vizinhos – que não são identificados por nome. As palavras usadas para descrever o suicídio, o conservadorismo dos senhores Lisbon e a privação de interação social das garotas são escolhidas de modo que torna tudo mágico ou misterioso.
Os objetos “colhidos” pelos meninos como provas ou lembranças das Lisbon parecem, da mesma forma, cobertos por uma espécie de pó mágico que torna a leitura fascinante, delicada e incansável. A história se alterna entre o passado e o presente, onde os meninos, já na meia-idade, entrevistam pessoas que de alguma forma se envolveram com as meninas em vida. Um sinal de que, mesmo depois de quase trinta anos, o mistério em torno das virgens suicidas continua a instiga-los como instiga o leitor durante e após o livro.
Os efeitos que as irmãs Lisbon causam na vizinhança também possuem relação direta com o olhar dos adolescentes – curioso, extasiado, enfeitiçado. Os meninos tem o cuidado de relatar a degradação das casas, dos moradores, das árvores infestadas por besouros e principalmente do lar dos Lisbon – com direito a minuciosas observações que incluem até o cheiro que o local exalava. Essas descrições tornam a vizinhança da época quase palpável a quem lê, além de novamente rodearem a aura das irmãs, como se tudo as envolvesse e declinasse ao mesmo tempo em que suas vidas.
A adaptação de Sofia Coppola é impecável. Apesar de alterações na ordem de acontecimentos e da ausência de algumas cenas retratadas na história original, a aura em torno das garotas é exatamente a mesma. Novamente, mesmo as cenas dolorosas são planejadas de modo que despertem a curiosidade e o deslumbramento antes da dor. A fotografia e paleta de cores do filme são um retrato minucioso do livro, bem como o encanto do telespectador para com as personagens principais. A leitura da obra antes do filme possibilita interpretações diferentes e melhor compreensão dos acontecimentos.
“As Virgens Suicidas” não são chamadas de “virgens” por conotação sexual ou algo do gênero. A virgindade é a atmosfera que envolve a obra e suas personagens, tornando-as puras, mágicas, atrativas.
O fim da história desperta a vontade de voltar ao início e retomá-la todas as vezes. Todos nos tornamos os meninos da vizinhança.